Páscoa

Olá. Feliz Páscoa. A frase clichê e o desejo atrasado tem justificativa. Não não vou falar que estou trabalhando muito, que viajei no feriadão ou tive muitas visitas. Quem dera muitas visitas...Principalmente aquela fundamental, primordial, gostosa e acolhedora, figura da mãe. É a segunda páscoa sem minha mãe, sem seus bilhetinhos deliciosos, seus presentinhos mágicos, seu abracinho apertado com aquelas bracinhos curtos que mal abracavam meu corpo gordo. Esse ano não teve bacalhau da mãezinha, nem cestinha cheia de ovinhos recheados de amendoins doces que recebia até na época da faculdade...Nada de coelhinhos de pelúcia porque estava de regime, ovos de páscoa com brindezinhos dentro ou caixas de bombons chiques. Sem mãe.
Só na memória, no coração, na saudade imensa que sinto dentro de mim, do vazio que ficou depois que ela se foi, vazio que parece crescer ao invés de diminuir. Será que um dia passa? Será que um dia a dor será só uma doce lembrança?
Nessa Páscoa tive meu pai, querido, companheiro de todas as horas, nunca me repreendeu diante do turbilhão de erros e escolhas erradas que fiz, diante dos meus fracassos ou de coisas que ele não concordava. Apenas me indicava os caminhos. Sempre incondicionalmente ao meu lado, me apoiando, me confortando à sua maneira, meio distante, tipo "Não me importo" mas me fazendo sentir a filha mais protegida e amada. Sim, meus pais são assim. Sim eles tem defeitos, que não são poucos, assim como eu, você. Mas jamais trocaria por nada no mundo, nenhum segundo passado com eles, um gesto, um beijinho, um olhar. 
Nessa Páscoa tive meu filho. Kenzo, coisa mais linda e fofa. Amoroso, carinhoso, pôe as duas mãozinhas no meu rosto e me beija, me olha profundamente dentro dos olhos e na maior sinceridade me diz te amo com os olhinhos mais lindos do mundo. Teve Kenzo abrindo ovos  maiores que ele, com os olhos estalados com o brilho do papel e o aroma do chocolate, falando "cholate", "ovu" e "Kojo" (Kozo, nome do meu pai) durante a tarde toda. Desde que ele nasceu senti uma sensação de plenitude que nada, nem ninguém, havia me proporcionado antes. Minha vida já valeu por ter gerado essa criança e, mesmo que eu nunca realize algo notório, a maternidade já me cobriu de vaidade.
Nessa Páscoa tive meu marido, Joel, muitas vezes incompreendido por mim, várias vezes açoitado pela minha frustração, solidão ou raiva. A pessoa mais próxima de mim, que muitas vezes teve de transpor sozinho o abismo que eu criava entre nós em muitos momentos em que eu não estava bem. Aguenta todas as minhas manias e acho que até as acha charmosas pois se casou comigo e me atura até hoje. Limpou e fez o bacalhau! Acha que tem marido mais fofo que esse? 
E não é que minha Páscoa foi uma delícia?